sábado, 27 de junho de 2009

Remake de Um Poema Nunca Antes Escrito


Ao professor Amilcar e ao falar com o falo

Hoje sentei-me, procurei-me e não me encontrei!
Abri mais umas garrafas para não-eu,
Escondi-me atrás de uns dedos entorpecidos,
Cobri-me com um olhar desfocado
E só aí vi a distância entre mim e esta merda!
Durante o dia, já não me sinto,
Já não sinto, nem desejo, nem espero, nem nada...
Espero pela noite, pelos sonhos menos alheios que as memórias
Que me violam durante o dia.

Cheira a Verão mas não sinto prazer algum nisso.
Cheira a Verão e é só de verões que me lembro,
Tudo dentro onde nada existe de verdade!
(O cheiro de uma cona molhada levanta-me mais o tesão
De uma noite que passou ao lado de uma outra que secou para mim do que o de agora.)

Mas nada! São só palavras e as palavras não se sentem.
A única coisa que se sente é este vazio por não se sentir.
Este tédio de ter pouco mais que seja grande novidade.
Tudo acaba por ser uma variação pouco original de algo que já se passou.
Morrer é só não ser mais um.
Viver é só ser mais um que para lá corre, se gosta de viver verdadeiramente.

A vida cansa-me! A ausência dela faz com que queira andar sempre aborrecido.
(E o meu egoísmo é tal que isto sai sempre: eu isto, eu aquilo,
Como se interessasse a alguém a merda que estou a cagar!
Abençoados humanos, que os há que gostam de uma boa bosta pelo corpo,
Uma boa ejaculação pela moral e dignidade até à sensação de pura liberdade!)

Até isto me cansa: virem-me a dar que sentir – tetas mais que adultas de cabeça cronológicamente jovem – quando passei a noite a tentar deixar de ser eu, meu e do mundo,
Perdido entre a pureza de uma destilação contra outra nem tanto e rodelas de lima,
Entre filtros cansados e suados de gargalhadas incoerentes.
E vem-me com aberturas excessivamente fáceis e inocentes de preversão adolescente.

Nem um comprimido azul, antes da cirurgia dos sonhos ajuda a sentir-me menos insensível.
Não tenho saudades minhas... tenho saudades de quem me fazia ser eu.
Agora... isto!

Savonlinna

27.06.2009

João Bosco da Silva

Sem comentários: