segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ossos de Alma

Ao São Gregório, não o que morreu
Já não penso!
Espremo-me, mas nada novo,
Nada novo para mim e para os que nunca abriram os olhos.
Ando com os olhos fechados dentro
E os de fora,
Só olham o que ficou para trás,
O que não reflecte mais luz.

Não me vem a melancolia por estar,
Por sentir o passar,
Por me aborrecer com o que não vem...
É por estar dentro do quarto do passado
Enquanto vejo o presente através das janelas.

E nada morre enquanto eu não morrer,
Mesmo quando nascem flores na campa vazia!

O meu primeiro amigo de escola,
Tão pobre mesmo sendo eu quase,
Ou filho de jovens que se iniciam,
A quem me provei bom por natureza...
Matei-me, mas no fundo algo vive ainda,
Cauda de lagarto separada do corpo,
Que se mexe, mais viva...

O meu primeiro amigo a quem a régua
Era tão fácil de oferecer,
(Tão solidários a dar dor aos que a ela estão habituados)
Contra tudo o que devia ser oferecido...
...brinquedos em segunda mão no Natal,
Na escola, dos meus, não muitos, fui...

O meu primeiro amigo com quem lutei,
A primeira luta da minha vida,
Incitados pelos “grandes” na entrada do tasco.
Ainda hoje não percebo por que razão...
Foi a primeira vez que me vi realmente!
Olhei os meus pulsos... obviamente partidos!
Afinal, nunca tinha reparado na apófise estiloideia.
Senti-me descartável, corrompido, sujo e humano.

Quantos morreram sem se darem conta
Da Apófise Estiloideia?
Quantos dão uso ao cúbito e nunca vêem?
Quantos dão felicidade da verdadeiramente gratuíta
E logo partem os pulsos contra um amigo,
Só para provar a desconhecidos
Que se tem a fragilidade dos humanos?

Já não penso,
Porque pensar não é preciso.
Quem precisa de pensar,
Quando se tem os do tasco
E toda a sua sabedoria de anos perdidos?

Já não penso,
Porque lembrar já me dói o suficiente.

Já não posso pensar!
Não tenho espaço no eu para mais castelos de cartas.
Todas as ideias dos outros,
Sempre melhores que as minhas,
Porque não sou nada,
Nem o meu nome é meu, que o partilho com brasileiros.

Os ossinhos do braço, tornaram-se mais tarde,
Apófises, tuberosidades, colos...
Partes de ossos, afinal não tantos.
Não me esqueço do mais importante
Acerca do braço partido, cujo calo na alma:
Dói mais dentro do peito
E no braço da outra pessoa.

Já não penso!
Se pensasse, isto seria mais que uma memória
E não isto que nem a mim me interessa mais.

Savonlinna

31-05-2009

João Bosco da Silva

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