terça-feira, 30 de junho de 2009

Eu, Sonâmbulo


“Abre los ojos”, disse Sofia Serrano
Acorda rapaz!
Acorda, que não estás a dormir.
Acorda, que ainda tens tempo.
Acorda, que se está a acabar o dia e tu a dormir.
Acorda já, olha que ninguém o fará por ti.
Não esperes pelo despertador que se esqueceu das horas e só espera a infinito.
Porque caminhas de olhos fechados para chegares ao que procuras?
O que procuras passa-te ao lado e tu a dormir!
Acorda rapaz!
Acorda, que a vida não é para preguiças,
Para isso terás todo o tempo e nenhum será teu.
Deixa-te de sonâmbulismos e acorda!
Vê de verdade o que se te apresenta,
Não olhes com esses olhos de corpo sem gente dentro,
Usa o que se te dá até à exaustão da sua existência.
Pensas que tens tempo?
Não sabes que o sómaisumbocadinho pode ser tudo que tens?
Vamos lá, acorda que já nem a sonhar estás,
Já nem sorris, nem falas com o silêncio do quarto,
Nem temes os medos, envelheceram e morreram.
Gastas-te e enganas os outros, seu sonâmbulo!
Acorda antes que te adormeças a fundo,
Para ti e para os outros, já que para ti dormes.
Acorda para a vida rapaz!
Acorda, que a vida é só vida se acordares para ela.


Savonlinna

30.06.2009

João Bosco da Silva

sábado, 27 de junho de 2009

Remake de Um Poema Nunca Antes Escrito


Ao professor Amilcar e ao falar com o falo

Hoje sentei-me, procurei-me e não me encontrei!
Abri mais umas garrafas para não-eu,
Escondi-me atrás de uns dedos entorpecidos,
Cobri-me com um olhar desfocado
E só aí vi a distância entre mim e esta merda!
Durante o dia, já não me sinto,
Já não sinto, nem desejo, nem espero, nem nada...
Espero pela noite, pelos sonhos menos alheios que as memórias
Que me violam durante o dia.

Cheira a Verão mas não sinto prazer algum nisso.
Cheira a Verão e é só de verões que me lembro,
Tudo dentro onde nada existe de verdade!
(O cheiro de uma cona molhada levanta-me mais o tesão
De uma noite que passou ao lado de uma outra que secou para mim do que o de agora.)

Mas nada! São só palavras e as palavras não se sentem.
A única coisa que se sente é este vazio por não se sentir.
Este tédio de ter pouco mais que seja grande novidade.
Tudo acaba por ser uma variação pouco original de algo que já se passou.
Morrer é só não ser mais um.
Viver é só ser mais um que para lá corre, se gosta de viver verdadeiramente.

A vida cansa-me! A ausência dela faz com que queira andar sempre aborrecido.
(E o meu egoísmo é tal que isto sai sempre: eu isto, eu aquilo,
Como se interessasse a alguém a merda que estou a cagar!
Abençoados humanos, que os há que gostam de uma boa bosta pelo corpo,
Uma boa ejaculação pela moral e dignidade até à sensação de pura liberdade!)

Até isto me cansa: virem-me a dar que sentir – tetas mais que adultas de cabeça cronológicamente jovem – quando passei a noite a tentar deixar de ser eu, meu e do mundo,
Perdido entre a pureza de uma destilação contra outra nem tanto e rodelas de lima,
Entre filtros cansados e suados de gargalhadas incoerentes.
E vem-me com aberturas excessivamente fáceis e inocentes de preversão adolescente.

Nem um comprimido azul, antes da cirurgia dos sonhos ajuda a sentir-me menos insensível.
Não tenho saudades minhas... tenho saudades de quem me fazia ser eu.
Agora... isto!

Savonlinna

27.06.2009

João Bosco da Silva

domingo, 21 de junho de 2009

Adolescência de um Aldeão

Sou rural por natureza!
Tive extases a ouvir Tristão e Isolda e o Holadês Voador.
Levei a Genealogia da Moral quando fui com o meu pai sulfatar a vinha.
Passei uma noite inteira n´O Banquete com um Sócrates mais verdadeiro.
Sonhei com um amor imortal como nos tempos de cólera que nunca chegou e morreu.
Presenciei desde as margens do Tuela à luta épica entre o velho e o peixe.
Discuti com o padre velho da terra a moral em Dostoievsky,
Enquanto partilhei com ele uma das suas últimas Quatro Estações na sua última estação.
Vi com o paroco da terra F1 e ouvi U2, visitei a neve, Salamanca... desisti de deus.
Fui o primeiro ateu assumido da família e dos conhecidos – nunca ninguém me tinha dito que não existia.
Cruzava a perna com um livro enquanto os outros sentiam cedo outras verdades no corpo.

Fui o pior dos aldeões!
Pensei que me tornaria sábio, culto, maior, mas não!
Aprendi apenas que nunca saberei o suficiente e que aprender é para nada.
Apenas me dei conta da minha ignorância.
Dei-me conta de um sinal que sempre tive mas nunca tinha visto
E achei-me mais feio.
Vi-me ao espelho e não era perfeito.
Afastei-me dos outros para me encontrar e afinal estava neles.

Sou rural e gosto das casinhas juntas e do cheiro quente a madeira nas lareiras no Inverno.
Sou rural e gosto que falhe a luz para que se acenda uma vela com a vida toda à sua volta.
Sou rural e gosto de dar uma escapadela ao rio quando o tempo começa a aquecer e as roupas das mulheres são menos.
Sou rural e gosto das fodas nos lameiros, nos palheiros, nos bancos traseiros nas noites de festa de Verão.
Sou rural e gosto de rimas, dos santos populares, do S. João que torna a cidade grande em muitas aldeias.
Sou rural e gosto de profanar um adro em boa companhia, seja líquida ou das que se liquefazem.

Sou um aldeão que aprecia àrvores mortas que falam com maior prazer
Quando debaixo da frescura de uma viva.


Savonlinna

20-06-2009

João Bosco da Silva

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Amor no Momento

Senti os teus músculos perinais
Bater palmas
Peidos de cheiro a prazer
Que não vinham do cú
E os tomates mais molhados
Do que o suor lhes permitia.

Senti-te engasgar e regurgitar
O meu bordão de fazer-me sentir
Nos outros
Quatro vezes
Enquanto corria como não podia
Para chegar a uma libertação qualquer
Com a vodka a atrasar-me
Os passos dos sentidos.

Senti que era amor mais amor
Que a palavra ou a definição impossível
Daquele que se sente sem se pensar
E é mais real e verdadeiro.


Savonlinna

15-06-2009

João Bosco da Silva

sábado, 13 de junho de 2009

Alma de Látex

A vida pesa-me tanto na cabeça!
Cada vez mais pesada.
Mal a posso aguentar.
Quero libertar-me deste peso e esquecer,
Renascer algo completamente novo,
Cadáver sem ilusões ou esperanças
Nesta realidade tão real e fatal.
(Condicionados à eterna desilusão
Até que a própria vida nos desiluda.)

O passado puxa-me a alma, fato viscoso colado ao corpo.
Sinto-me um saco de memórias,
Tão cheio que as alças estão para rebentar.
Sou de plástico barato!
Assim me fizeram, não esperando grandes feitos para recordar,
Mas eu acumulo tudo e todo o lixo me é precioso porque sou feito dele.
Não sei que volume me deram para encher e suportar,
Sei que não aguento muito mais.
(Despejem-me e virem-me do avesso
Que serei o mesmo, vazio...)

A vida cai-me nos olhos, nos sentidos
E enche mais a falta de tudo o que passou.
Puxo e puxo esta alma de látex que se estica
Enquanto o tempo me faz caminhar
Com ela presa ao passado.


Rantasalmi

13-06-2009

João Bosco da Silva

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Queda nas trevas

O dia cai sem ter estado em lado nenhum,
Corro a cortina e fecho-o numa caixa impossível,
Guardo-o na algibeira e sigo para a terra fora do tempo.
Todos os cigarros que não fumei jazem apagados no cinzeiro
E todas as mulheres que não amei acolhem o sémen de quem nunca fui.
O mundo apaga-se, mas fora continua aceso e vibrante, vivo,
Só eu me canso e me responsabilizo de ter sentido tão pouco
Na possibilidade de ter podido sentir muito.
Não vou mentir muito. Se o que disser não for verdade,
É porque o que conheço é só mentira e ilusão e sonhos para nada
E desejos para ninguém e para todos.

A carta de feliz aniversário que não cheguei a enviar,
Na mesa onde está espalhada a minha alma,
É agora inútil para um destinatário que já não é.
O dia acaba e eu sem ter feito nada para o acabar!
Todos vivem fora disto, estou seguro que sim,
Mesmo não o sentindo, não estando na sopa de vida dos outros.
Como posso estar assim comigo?

O orgasmo interrompido de ontem preenche o vazio incompleto de hoje,
Mas hoje estou só, desejo estar só e não me suporto!

As rosas não as vejo, não as sinto, só o aroma me chega difuso
Entre o cheio acre e cinzento da minha existência.
(Ainda tenho entranhado nos poros feromonas íntimas de janelas por onde se entra verdadeiramente
E isso pesa-me como se tivesse gente às costas,
Tão diferente do salto da ponte enquanto me venho!)
Mergulho! Mergulho na água, neste verão frio,
Na água da excitacão alheia que nem me interessa,
Não egoísta, humano somente.

Péssimo! E não sei o que adjectivo, porque não conheço a vida,
Como todos com suas vidas e vidas duplas,
Santos de cú aberto para quem lhe quiser rebentar a moral,
Libertar na sua amoralidade sensorial, porque sentir é pecado
E pecar sabe bem, sente-se mal, mas só dentro no que é falso.
(Bocas cheias de desconhecidos no futuro que nunca terão,
Dos maiores desconhecidos que não sabem conhecer e abocanham com a fúria de um vazio maior.)

O dia que foi tudo, o tudo mais recente, a minha vida resumida
Escrita nisto que já se apaga e foi nada afinal.
Todos que quase não me tocaram e lavarei com a água inconsciente
Que me percorrerá a mente externa que me dá ao que sou dentro.
Tudo se fecha em nada e o tudo é tão pouco!
...sem ter estado em lado nenhum, o dia cai...


Savonlinna

12-06-2009

João Bosco da Silva

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A Curvatura do Ser

A esta distância de mim, não me consigo reconhecer.
Deixei-me ficar e fui caminhando só de mim,
Corpo e movimento, sem o que me faz ser.
Abandonei-me sem vontade, deixei-me morrer
E renasci morto-vivo, pálida cópia envelhecida do verdadeiro que fui.
As faces familiares sorriem-me como se me reconhecessem,
Mas não é de mim que se lembram. Não pode ser de mim!
Nem eu sei de quem eles se estão a lembrar,
Nem tentando ver-me à distância... tão longe!

Ninguém diga que o mundo de cada um é curto!
Ninguém diga que a vida é curta!
Tantos caminhos e encruzilhadas dentro da cabeça de cada um!
Tanta vida e morte numa única vida de corpo!

Quantas vezes mais terei que morrer,
Parir-me de novo e errar uma vez mais,
Morrer outra e outra vez, temendo paradoxalmente a definitiva,
O final desta mãe de almas a que me chamam tu?

Não me quero! Cada novo é sempre pior que o que deixei
E acumulam-se no sotão de mim aqueles que não quis ser,
Que eram afinal tudo o que hoje queria que eu fosse, mas já não posso.

Estou hoje lúcido de mim e por isso não me reconheço.
Estou hoje sentado sobre a minha existência e sei que o que sinto
É apenas o peso do corpo sobre a minha alma que escorre para os glúteos.
Não estou triste, porque não consigo sentir...
Se sentisse quem o sentiria? Não tenho dono para o que possa sentir
E sem uma entidade que sinta, não há sensação.
Fecho os olhos e o mundo continua a não existir.
Acordo para mim e o mundo recomeça onde nunca o deixei.

Sente-se que hoje é. Hoje não é nada! Nada está hoje,
Nem amanhã, nem em tempo nenhum!
Como se pode estar no tempo? No tempo só se pode ser
E no espaço só se pode estar.
(Ridículo este que pensa e que crê que não crê em nada,
Tendo apenas o nada como certeza insegura!
Antes aquele que julgava crer e afinal só seguia,
Sentindo uma espécie de vazio cerebral, levado por ideias absurdas que outros tiveram.)

Morreu! Morreram todos! Vivo num cemitério de almas,
Rodeado por corpos vazios de gente, cheios de vazio,
Estúpidos como todos os humanos que se olham por dentro
E perdem a inocente estupidez animal.

Hoje escrevo isto apenas para desenterrar algum resto de mim,
Para ver um pedaço de carne apodrecida, nestes ossos que escrevem
E admirar as memórias que aquela pele cor de fantasma escreveu dentro de mim.

Jogos de bilhar e cerveja com os amigos, também eles mortos.
Cartas nos intervalos, rodeados por um nuvem de fumo alheia.
O traseiro duro de uma colega sobre a minha tesão adolescente.
Uma aula que ficará para a eternidade da minha alma finita.
Um parque verde onde parece ter ficado aquela criança que fui.
O primeiro amigo, o último melhor amigo e o seu regresso como amigo.
Os amigos eternos tatuados no meu ser, presentes mesmo quando não estou.
Dois corpos que se confundem no banco de trás de um carro,
Outros corpos que se confundem com os corpos que se confundiram,
Numa batida de carne de quem tem fome de sentir e ser sentido.
Quartos em cidades das memórias de infância
Descobrindo o corpo adulto de quem nem interessa conhecer o passado
E do presente basta o que nos envolve e acolhe o esperma.
Torneio de basquetebol onde me ficou o que nunca teve oportunidade de ser mais
E aquele de andebol, onde dei os primeiros passos na areia quente da vida.
As primeiras ressacas verdadeiras embalado pela água parada da piscina pública.
Os fins de tarde com os bonecos e o amigo que regressou,
Até a fome chamar por nós e o dia se cansar de ser quente.
O cheiro a verde dos lameiros do meu avô com os meus primos,
O cheiro doce do vinho no lagar do meu pai com as uvas a fugirem-me por entre os dedos os pés.
Uma noite ébria e absurda, em que só nós faziamos sentido com palavras desnecessárias.
Os matraquilhos com os bonecos a passar pelo milagre da multiplicação
No nascer da manhã depois da festa do verão à beira rio.
Os castelos que visitei e onde ficou sempre um bocado de mim.
Os corpos onde entrei e onde espalhei sempre algo que não sou.
Os amigos, sempre os amigos, que me têm mais do que eu a mim me tenho.

Custou encontrar-me. Tanto que não me encontrei.
Li-me, mas quem escreveu morreu.
Tudo pertenceu ao que estava fora. Entrou, alterou a configuração labiríntica das minhas sinapses,
Saiu... de mim, nada ficou! Só em mim ficou o que não haverá outra vez.
Vomitei-me todo e o que saiu não era eu. Até que ponto sou o que como?
Quanto sou daquilo que me faz ser?

Não sei onde ficar, nem se vou continuar deveras.
Não sei o que acabei, nem se fui eu a começá-lo.

Perdi a razão que me levou a isto e por isso, sem razão,
Terminarei mais uma tentativa falhada de me colar e me encontrar numa realidade visível,
De me explicar a quem não me pediu explicação nenhuma,
De escrever para olhos cegos uma verdade que nunca será lida.


11-06-2009

Savonlinna

João Bosco da Silva

terça-feira, 9 de junho de 2009

Sem Importância

Porque não me importar me faz livre,
Não me quero importar.

Grito no autocarro cheio de gente
Cheia de pressa e de tudo e não me importo!
O peso saiu, em forma de palavra selvagem e primordial.

Meto-lhe a mão por vontade da mão
E por não me importar
E os dedos escorregam logo para dentro.
Eram esperados e agora preparam.

Desejei tantas vezes a morte, que nada mais importa!
Fecho os olhos e sinto o que na vida persiste.
Excedo-me, mas na vida não há limites,
Só eu os tenho enquanto me importar
E tiver medo
E a mim mesmo os estabelecer.

A vida é um universo e os seu limites são nada,
Se não dermos importância aos limites falsos e limitados do olhar.

Não me importo,
Mas estou a importar-me com não me importar.
Raios!


08/06/2009

Rantasalmi

João Bosco da Silva

Nota Pós-Orgásmica

Agarram-se ao sentir,
À novidade dos sentidos, mas para quê?
O vazio do nada, do futuro, é tão grande,
Que torna qualquer gesto ridículo.
Nem é um nadar contra a corrente,
É mais bater os braços enquanto se cai num abismo infinito.
Procuram-se os limites do corpo,
Mas o limite é simples e desconhecido.
A sensação mais extrema é a aniquilacão de todo o sentir!
Aborrece-me tanto um puritano, com a sua busca pela pureza,
Como uma puta gratuita, com a sua busca pela decadência.
(Pureza? Decadência? Qual? Onde? Quando?)
Olhar-lhe nos olhos, vê-la a passar,
Agarrar-lhe, no último momento, um passageiro e mantê-lo
Por cá mais uns tempos... isso sim!
Quase dá razão a isto!


07-06-2009

Savonlinna

João Bosco da Silva

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Masturbação Intelectual

Transcrição do ilegível

O dia nem me correu mal
E hoje, até nem estou muito virado para implicar com a vida.
Na manhã, sonhei acordado
Memórias, conteúdo manifesto,
Enquanto as mãos trabalhavam.
Projecto-me na simplicidade dos momentos felizes,
Que perduram acabados na frágil memória do animal humano,
Quando me falta que sentir.

Queria ler, mas só papel branco e caneta azul.
Pego nisto e leio para fora,
Palavras primeiro dentro e só depois fora,
Agora no papel e na memória.
Não me apetecem cores nem movimento,
Quero só esta agitação estáctica que se move dentro.

O dia até está feio, húmido e é quase verão,
Mas eu não sou higrómetro, nem termometro.
É nos dias quentes, a cheirar a amarelo,
Que me sinto mais melancólico.

Este verde aborrece-me porque é mentira
E essa verdade torna o céu cinzento.

Sinto-me como um palheiro no meio de um lameiro na Primavera,
Apesar de ser falso entre a vida.

Dói-me o pulso, não por escrever,
Mas talvez por me masturbar nos outros,
Que é sempre melhor tocar e ser tocado.
Apetecia-me foder a cabeça com alguém,
Não há quem,
Então, masturbo-me e fodo-lha a alguém.

O dia nem me correu mal
E hoje ainda não acabou.
Viro-me para dentro
E a vida, que é de fora, começa a implicar comigo.
Que implique!
De hoje só quero alguém que me diga um orgasmo na língua
E me leia o meu com a boca toda.

Rantasalmi/Savonlinna

04-06-2009

João Bosco da Silva

terça-feira, 2 de junho de 2009

A Vontade de Poder

Submeto-me à vontade da minha vontade,
Alheio aos meus desejos.
Submissão à vontade, às vontades,
Nossas que não o são realmente
E dos outros, se forem de acordo com a vontade
Da nossa vontade e do árbitro dos desejos.

Não quero ser feliz!
Nada me livre!
Quero submeter os outros
Aos meus desejos de criança corrompida,
Mesmo cruéis como arrancar a cabeça à boneca favorita da irmã.

Cresci? Nada disso!
Cresceram as vontades e a cada satisfeita...
O vazio da sua satisfação após a satisfação de um vazio futuro.

Não é por o bom ser bom e o mal mau...
É a vontade que me faz bom ou mau.
Quero lá eu saber de ideias!
Nunca cheirei uma teoria!
Os valores nunca me alimentaram!
Nunca fodi um dogma,
Ou senti na pele uma palavra!
Por dentro, não somos nada para o mundo
E o mundo, nunca nos entra dentro.
Partes com que construímos a colagem do que somos:
Um mundo que escolhemos ser,
Um mundo segundo a vontade da nossa vontade,
Não... nunca inteiramente... não directamente nossa... nosso?

Escapa-se-me as ideias, mas nem é por entre as circunvoluções
E muito menos por entre os dedos.
Escapam-se-me por entre pedaços de não-ser,
Esquecimento, falta de vontade e ... Nada!


Rantasalmi

02-06-2009

João Bosco da Silva

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ossos de Alma

Ao São Gregório, não o que morreu
Já não penso!
Espremo-me, mas nada novo,
Nada novo para mim e para os que nunca abriram os olhos.
Ando com os olhos fechados dentro
E os de fora,
Só olham o que ficou para trás,
O que não reflecte mais luz.

Não me vem a melancolia por estar,
Por sentir o passar,
Por me aborrecer com o que não vem...
É por estar dentro do quarto do passado
Enquanto vejo o presente através das janelas.

E nada morre enquanto eu não morrer,
Mesmo quando nascem flores na campa vazia!

O meu primeiro amigo de escola,
Tão pobre mesmo sendo eu quase,
Ou filho de jovens que se iniciam,
A quem me provei bom por natureza...
Matei-me, mas no fundo algo vive ainda,
Cauda de lagarto separada do corpo,
Que se mexe, mais viva...

O meu primeiro amigo a quem a régua
Era tão fácil de oferecer,
(Tão solidários a dar dor aos que a ela estão habituados)
Contra tudo o que devia ser oferecido...
...brinquedos em segunda mão no Natal,
Na escola, dos meus, não muitos, fui...

O meu primeiro amigo com quem lutei,
A primeira luta da minha vida,
Incitados pelos “grandes” na entrada do tasco.
Ainda hoje não percebo por que razão...
Foi a primeira vez que me vi realmente!
Olhei os meus pulsos... obviamente partidos!
Afinal, nunca tinha reparado na apófise estiloideia.
Senti-me descartável, corrompido, sujo e humano.

Quantos morreram sem se darem conta
Da Apófise Estiloideia?
Quantos dão uso ao cúbito e nunca vêem?
Quantos dão felicidade da verdadeiramente gratuíta
E logo partem os pulsos contra um amigo,
Só para provar a desconhecidos
Que se tem a fragilidade dos humanos?

Já não penso,
Porque pensar não é preciso.
Quem precisa de pensar,
Quando se tem os do tasco
E toda a sua sabedoria de anos perdidos?

Já não penso,
Porque lembrar já me dói o suficiente.

Já não posso pensar!
Não tenho espaço no eu para mais castelos de cartas.
Todas as ideias dos outros,
Sempre melhores que as minhas,
Porque não sou nada,
Nem o meu nome é meu, que o partilho com brasileiros.

Os ossinhos do braço, tornaram-se mais tarde,
Apófises, tuberosidades, colos...
Partes de ossos, afinal não tantos.
Não me esqueço do mais importante
Acerca do braço partido, cujo calo na alma:
Dói mais dentro do peito
E no braço da outra pessoa.

Já não penso!
Se pensasse, isto seria mais que uma memória
E não isto que nem a mim me interessa mais.

Savonlinna

31-05-2009

João Bosco da Silva