terça-feira, 19 de maio de 2009

Fotografia

Quem é aquele rapaz na fotografia com os meus amigos?
Não o conheço!
Lembro-me de coisas que ele viu,
Do que dizia gostar e do que gostava mesmo,
Mas dele, não me lembro.

Como nunca cheguei a conhecer aquele estranho,
Que deve ser da família,
Já que está em todos os álbuns de fotografias lá de casa?
Impossível nunca nos termos cruzado!

Por onde andará agora?
Ainda deve estar nas fotografias,
Eterno,
Cheio de esperança e sonhos no olhar...
Crente num sentido, sem o conhecer, mas acreditando.

Como se sentia ele tão seguro e cheio,
Estando quase em branco?

O sorriso dele é-me familiar,
Faz-me lembrar não sei que calor,
Não sei que companhias em inocência,
Não sei que paz no estar...

Parece-me tê-lo ouvido uma vez,
Numa noite de São João,
A cantar sem letra, uma música que esqueci.

Contou-me um gato, que ele o olhou à noite
Enquanto atravessava um caminho de terra,
Iluminado pelo último candeeiro da rua
E nisso viu um sentido maior...

...da varanda do quarto da sua irmã,
Que, vim a saber, é a mesma que a minha.

Não sei o que fazem no meu quarto
Os seu poemas ridículos de amor.
Será ele um primeiro filho de minha mãe,
Que morreu antes de eu ter nascido,
Ou ao mesmo tempo que eu nascia,
De quem nunca me falaram?
Nem quero ler as palermices dele,
Nem sentir vergonha por alguém que não conheço!

E ele a sorrir sempre,
Eternamente,
Para mim, que nunca o vi realmente,
Troçando dos meus olhos míopes,
Lembrando-me que me perdi
E que existem muitas mortes na vida...
...não se move.
Foi tudo imaginação minha.

Está apenas,
Alheio ao tempo entre nós,
A um braço de distância.


19-05-2009

Rantasalmi (Kalle-kustaa)

João Bosco da Silva

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