sábado, 21 de março de 2009

Um Dia da Árvore que ficou Além

Passam por mim, estranhas e alheias,
As minhas memórias de outros
Que morreram, neste que morrerá.
Desejo ser um cadáver vivo
Neste corpo prostituído pelo tempo.

Não me reconheço quando me penso
E me recordo. Antes água,
Agora sedimento, mal humedecido,
Quase lama sem poder ser
Coisa nenhuma.

Passeio por um passado não meu
E eu com saudades do que não é.

Lembro lágrimas que não choro
E sinto o sal mal desperdiçado.

Tudo foi como uma árvore que se
Plantou, no Dia da Árvore
Da criança que não acredito ter sido,
Ritual, meio sem fim,
Como todas as mulheres como noites,
Mas com a duração entre um olhar
E um orgasmo no vazio
De ninguéns nunca nascidos.

De que serve o livro que ninguém leu,
A um morto que à vida ainda pertence?

Os anos passam, mas só imagens ficam
E dessas...
Essas precisam olhos para se mostrarem.


21-03-2009

Savonlinna

João Bosco da Silva

1 comentário:

Anónimo disse...

Que bom seria ser esse cadáver vivo.
da couca torgueira