sábado, 1 de agosto de 2009

Arrefecimento

As luzes do fundo da vila mais longe
E eu que daqui só as vejo de olhos fechados.
Os sapos chamam-me escondidos
E eu respondo-lhes, inspirando fundo o ar fresco, com um suspiro.
Há anos que não vejo um sapo com os olhos
E não me lembro da última vez que ouvi um fora de mim.
Não sei de pessegueiros nem de figueiras,
Mas tenho a certeza que me esperam
E me receberão de ramos abertos e sorrisos maduros,
Nas manhãs prolongadas por mais uma festa,
Após o primeiro ciclo respiratório consciente do dia.
Os primos pequenos agora com os ossos da idade do meu comprimento,
Estão onde me deixei, porque aqui não vale.
Nasce a próxima geração e com ela a consciência dos cabelos brancos.
Corre-me o rio dentro, sem o sentir,
Trazendo-me os desafios da morte, coitos frios e amizades que a corrente tinha levado.
Às vezes não sei se cerveja, se àgua, se um colar de missangas apertando-me o pescoço,
Espremendo-me as memórias de uma memória.
As telhas velhas da casa que se tornaram numa cidade,
Hoje ruínas e sem sinal de cidade,
E se houvesse cidade, telhas desarrumadas para estes olhos que só vêem.
Hoje, Julho quase acaba e o Verão sem ter chegado.


Savonlinna

27.07.2009

João Bosco da Silva

Sem comentários: